quinta-feira, 30 de junho de 2011

DIA 30/06 COMEÇO DO MARTÍRIO E PERSEGUIÇÃO DO IMPERADOR NERO AOS CRISTÃOS E SANTOS DE 64 DC A 67 DC

Martírio dos Primeiros Cristãos de Roma
  Na primeira perseguição contra a Igreja, desencadeada pelo imperador Nero, depois do incêndio da cidade de Roma no ano 64, muitos cristãos foram martirizados com atrozes tormentos. Este facto é testemunhado pelo escritor pagão Tácito (Annales 15,44) e por São Clemente, bispo de Roma, papa, na sua Carta ao Coríntios (cap.5-6), do ano 96: 


Jean-Léon Gerone, A última oração dos mártires cristãos, 1883, The Walters Art Gallery, Baltimore 

“Deixemos de lado os exemplos dos antigos e falemos dos nossos atletas mais recentes. Apresentemos os generosos de nosso tempo. Vítimas do fanatismo e da inveja, sofreram perseguição e lutaram até à morte. Tenhamos diante dos olhos os bons apóstolos. Por causa de um fanatismo iníquo, Pedro teve de suportar duros tormentos, não uma ou duas vezes, mas muitas; e depois de sofrer o martírio, passou para o lugar que merecia na glória. Por invejas e rivalidades, Paulo obteve o prémio da paciência: sete vezes foi lançado na prisão, foi exilado e apedrejado, tornou-se pregoeiro da Palavra no Oriente e no Ocidente, alcançando assim uma notável reputação por causa da sua fé. Depois de ensinar ao mundo inteiro o caminho da justiça e de chegar até os confins do ocidente, sofreu o martírio que lhe infligiram as autoridades. Partiu, pois, deste mundo para o lugar santo, deixando-nos um perfeito exemplo de paciência. A estes homens, mestres de vida santa, juntou-se uma grande multidão de eleitos que, vítimas de um ódio iníquo sofreram muitos suplícios e tormentos, tornando-se, desta forma, para nós um magnífico exemplo de fidelidade. Vítimas do mesmo ódio, mulheres foram perseguidas, como Danaides e Dircéia. Suportando graves e terríveis torturas, correram até o fim a difícil corrida da fé e mesmo sendo fracas de corpo, receberam o nobre prémio da vitória. O fanatismo dos perseguidores separou as esposas dos maridos, alterando o que disse nosso pai Adão: É osso dos meus ossos e carne de minha carne (cf. Gn 2,23). Rivalidades e rixas destruíram grandes cidades e fizeram desaparecer povos numerosos. Escrevemos isto, não apenas para vos recordar os deveres que tendes, mas também para nos alertarmos a nós próprios. Pois nos encontramos na mesma arena e combatemos o mesmo combate. Deixemos as preocupações inúteis e os vãos cuidados, e voltemo-nos para a gloriosa e venerável regra da nossa tradição. Consideramos o que é belo, o que é bom, o que é agradável ao nosso Criador. Fixemos atentamente o olhar no sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus seu Pai esse sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência.” 

Parece oportuno colocar aqui a exortação ao martírio da autoria de Orígenes: 

“Se passamos da morte para a vida (1Jo 3,14), ao passarmos da infidelidade para a fé, não nos admiremos se o mundo nos odeia. Com efeito, quem não tiver passado da morte para a vida, mas permanecer na morte, não pode amar aqueles que abandonaram a tenebrosa morada da morte, para entrar na morada feita de pedras vivas, onde brilha a luz da vida. Jesus deu a sua vida por nós (1Jo 3,16); portanto, também nós devemos dar a vida, não digo por ele, mas por nós, quero dizer, por aqueles que serão construídos, edificados, com o nosso martírio. Chegou o tempo, cristãos, de nos gloriarmos. Eis o que está escrito: E não só isso, pois nos gloriamos também de nossas tribulações, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada, a virtude provada desabrocha em esperança; e a esperança não decepciona. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,3-5). Se, à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo (2Cor 1,5), acolhamos com entusiasmo os sofrimentos de Cristo; e que eles sejam muitos em nós, se desejamos realmente obter a grande consolação reservada para todos os que choram. Talvez ela não seja igual medida para todos. Pois se assim fosse, não estaria escrito: à medida que os sofrimentos de Cristo crescem em nós, cresce também a nossa consolação. Aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo, participarão também da consolação que ele dará em proporção aos sofrimentos suportados por seu amor. É o que nos ensina aquele que afirmava cheio de confiança: Assim como participais dos sofrimentos, participareis também da consolação (cf. 2Cor 1,7). Da mesma forma Deus fala através do Profeta: No momento favorável, eu te ouvi e no dia da Salvação, eu te socorri (cf. Is 49,8; 2Cor 6,2). Haverá, por acaso, tempo mais favorável do que esta hora, quando por causa do nosso amor a Deus em Cristo somos publicamente levados prisioneiros neste mundo, porém, mais como vencedores do que como vencidos? Na verdade, os mártires de Cristo, unidos a ele, destroçam os principados e as potestades, e com Cristo triunfam sobre eles. Deste modo, tendo participado de seus sofrimentos, também participam dos merecimentos que ele alcançou com a sua coragem heróica. Que outro dia de salvação haverá tão verdadeiro como aquele em que deste modo partireis da terra? Rogo-vos, porém, que não deis a ninguém motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado; mas em tudo comportai-vos como ministros de Deus com grande paciência (cf. 2Cor 6,3-4), dizendo: E agora Senhor, que mais espero ? Só em vós eu coloquei minha esperança ! (Sl 38,8). (Nn 41-42: PG 11, 618-619) (Séc. III)

OS PRIMEIROS SANTOS MÁRTIRES DA IGREJA DE ROMA

Na primeira perseguição contra a Igreja, desencadeada pelo imperador Nero, depois do incêndio da cidade de Roma no ano 64, muitos cristãos foram martirizados com atrozes tormentos. Este facto é atestado pelo escritor pagão Tácito (Annales 15, 44) e por S. Clemente, bispo de Roma, na sua Epístola aos Coríntios (cap. 5-6).

Da Epístola de São Clemente, papa, aos Coríntios

Deixemos os exemplos dos antigos e falemos dos nossos atletas mais recentes; apresentemos os exemplos generosos do nosso tempo. Vítimas do fanatismo e da inveja, os que eram as maiores e mais santas colunas da Igreja sofreram perseguição e tiveram de combater até à morte.Ponhamos diante dos nossos olhos os bons Apóstolos. Por causa dum fanatismo iníquo, Pedro teve de suportar duros tormentos, não uma ou duas vezes, mas muitas; e, depois de sofrer o martírio, passou para o lugar que lhe era devido na glória. O mesmo fanatismo e rivalidade deu a Paulo ocasião para alcançar o prémio da paciência: sete vezes lançado na prisão, exilado e apedrejado, tornou-se o pregoeiro da palavra no Oriente e no Ocidente e conseguiu uma extraordinária fama com a sua fé. Depois de ensinar ao mundo inteiro o caminho da justiça e de chegar até aos confins do Ocidente, sofreu o martírio que lhe infligiram as autoridades e partiu deste mundo para o lugar santo, deixando-nos um exemplo perfeito de paciência.A estes homens, mestres de vida santa, juntou-se uma grande multidão de eleitos, que, vítimas de ódio iníquo, sofreram muitos suplícios e tormentos, e assim se converteram para nós num magnífico exemplo de fidelidade. Vítimas do mesmo ódio, sofreram perseguição muitas mulheres, como Danaides e Dirces, que, suportando graves e horríveis suplícios, correram até ao fim a árdua carreira da fé e, sendo fracas de corpo, receberam o nobre prémio do triunfo. O fanatismo dos perseguidores separou esposas dos maridos, alterando o que disse nosso pai Adão: É osso dos meus ossos e carne da minha carne. O fanatismo e a rivalidade destruíram grandes cidades e fizeram desaparecer numerosas povoações.Escrevemo-vos isto, caríssimos, não só para vos recordar os deveres que tendes, mas também para nos incitarmos a nós próprios. Encontramo-nos na mesma arena e combatemos o mesmo combate. Deixemos portanto as preocupações inúteis e vãs, e voltemo-nos para a norma gloriosa e venerável da nossa tradição, para compreendermos o que é belo, o que é bom, o que é agradável ao nosso Criador. Fixemos atentamente o nosso olhar no Sangue de Cristo e reconheçamos como é precioso perante Deus o seu Sangue, que, tendo sido derramado pela nossa salvação, alcançou para o mundo inteiro a graça da conversão.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

HOJE DIA 29/06 É DIA DELES São Pedro e São Paulo, Apóstolos de Jesus Cristo, Mártires


São Pedro e São Paulo, Apóstolos de Jesus Cristo, Mártires

 
São Pedro
Comemoramos hoje o dia dedicado ao príncipe dos Apóstolos e primeiro Papa da Igreja, São Pedro. Esta festa foi instituída por volta do Século IV, antes mesmo de ser definida a data atual da festa do Natal.
Ele era um pescador e o seu nome originalmente era Simão, filho de Jonas e irmão de André. Mas Jesus mudou-lhe o nome para Pedro que significa pedra, pois ele seria a rocha forte sobre a qual Jesus edificaria a Sua Igreja. Por isso, comprovadamente, ele foi o primeiro Papa da Igreja Católica Apostólica Romana.
Uma parte importante da sua vida está documentada nos Evangelhos e nos Atos do Apóstolos; sobre a sua vida em Roma, existem muitas e belas narrativas passadas de geração em geração, algumas delas contadas em diferentes romances inspirados nos primeiros tempos da Igreja.
Morreu crucificado como Jesus, mas de cabeça para baixo, pois não se achava digno de morrer de maneira igual ao Mestre.

São Paulo
Judeu, da tribo de Benjamim, originário de Tarso, chamava-se Saulo. Converteu-se ao cristianismo e tornou-se o grande e insuperável missionário, o apóstolo dos gentios. Foi ele quem lançou as bases da evangelização no mundo helênico, fundando numerosas comunidades e percorrendo toda a Ásia Menor, a Grécia e Roma, anunciando o Evangelho de Jesus Cristo crucificado, morto e ressuscitado pelo poder de Deus.
São Paulo foi o primeiro a elaborar uma teologia cristã. Ao lado dos Evangelhos, as suas epístolas são as fontes de todo o pensamento e de toda a vida mística cristã. Isto o coloca num lugar de destaque entre os maiores pensadores da história do cristianismo.
São Paulo era um homem de fortes paixões e de grande poder de liderança e de organização. É a figura mais cosmopolita de toda a Bíblia. Segundo os estudiosos, Paulo era um homem da cidade, e em nenhum lugar de seus escritos mostra qualquer mentalidade ou interesse pela vida rural ou pela vila.
Nunca houve conversão mais ruidosa do que a sua, tão pouco houve mais sincera, pois o mais furioso perseguidor de Jesus Cristo passou, de repente, a ser um dos seus mais fervorosos apóstolos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

DIA 28/06 DIA DE "SANTO IRENEU DE LYON"


Ireneu de Lyon

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Santo Ireneu de Lyon
Saint Irenaeus.jpg
Um entalhe de Santo Ireneu, Bispo de Lugdunum na Gália (atual Lyon, na França)
Bispo de Lyon, Mártir, Padre grego
Nascimento Século II dC em Esmirna, Ásia Menor (atual Izmir, Turquia)
Falecimento c. 202 dC em Lugdunum na Gália (atual Lyon, na França)
Veneração por Igreja Católica
Igreja Ortodoxa
Igreja Luterana
Comunhão Anglicana
Festa litúrgica 28 de junho na Igreja Católica e na Comunhão Anglicana; 23 de agosto Igreja Ortodoxa
Portal dos Santos
Santo Ireneu de Lião, em grego Εἰρηναῖος [pacífico], em latim Irenaeus, (ca. 130202) foi um Padre grego, teólogo e escritor cristão que nasceu, segundo se crê, na província romana da Ásia Menor Proconsular - a parte mais ocidental da actual Turquia - provavelmente Esmirna (atual Izmir, na Turquia).
O livro mais famoso de Ireneu, Sobre a detecção e refutação da chamada Gnosis, também conhecido como "Contra Heresias" ou Adversus Haereses (ca. 180 dC) é um ataque minuciosos ao Gnosticismo, que era então uma séria ameaça à Igreja primitiva e, especialmente, ao sistema proposto pelo gnóstico Valentim. Como um dos primeiros grandes teólogos cristãos, ele enfatizava os elementos da Igreja, especialmente o episcopado, as Escrituras e a tradição. Ireneu escreveu que a única forma de os cristãos se manterem unidos era aceitarem humildemente uma autoridade doutrinária dos concílios episcopais.
Seus escritos, assim como os de Clemente e Inácio, são tidos como evidências iniciais da primazia papal. Ireneu foi também a testemunha mais antiga do reconhecimento do caráter canônico dos quatro evangelhos.
A Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa consideram-no santo, comemorado, pela primeira, a 28 de Junho e pela última a 23 de Agosto.

Biografia
Há escassa informação sobre sua vida e muitas coisas são pouco exatas. Teria nascido na Asia proconsular, pelo menos em alguma província em seu limite, na primeira metade do século II. Não se sabe a data certa de seu nascimento. Está entre os anos 115 e 125, ou entre 130 e 142 segundo outros autores.
O que é certo é que, ainda muito jovem, tinha visto e escutado em Esmirna o bispo São Policarpo (?-155) o qual, que, por sua vez, segundo uma tradição atestada por Papias, fora discípulo de João Evangelista. Durante a perseguição ordenada por Marco Aurélio, Ireneu era sacerdote na igreja de Lyon naquela época chamada Lugdunum, na Gália. O clero da cidade, muitos dos quais presos por testemunharem sua Fé, o enviou (em 177 ou 178) a Roma, com carta ao papa Eleutério sobre o Montanismo, testemunhando de seus muitos méritos. De retorno à Gália, Ireneu sucedeu o mártir São Potínio como bispo de Lyon.
Durante a trégua religiosa subsequente à perseguição de Marco Aurélio, o novo bispo dividiu seu tempo entre deveres como pastor e missionário (do que temos poucas e incertas informações) e os seus escritos, quase todos dirigidos contra a heresia do Gnosticismo, que começava a se espalhar pela Gália. Neste sentido, sua obra mais famosa é chamada de Contra Heresias (Adversus haereses). Em 190 ou 191, intercedeu junto ao Papa Vitor para suspender a sentença de excomunhão imposta sobre as comunidades de cristãos na Ásia Menor, que continuavam as práticas dos quartodecimanos - que desejavam celebrar a Páscoa segundo a tradição judaica.
Ignora-se a data de sua morte, que deve ter ocorrido no fim do século II ou início do século III. Apesar de alguns testemunhos isolados e tardios nesse sentido, é improvável que tenha terminado sua vida num martírio. Ele morreu por volta de 202 d.C. quando do reinado de Setímio Severo ou nas mãos de hereges. Ele foi enterrado sob a igreja de São João em Lyon, que foi posteriormente renomeada "Santo Ireneu" em sua homenagem. Porém, o túmulo e seus restos foram completamente destruídos em 1562 pelos huguenotes.

A Obra Teológica

Ireneu escreveu em grego a sua obra, que lhe assegurou lugar de prestígio excepcional na literatura cristã devido, não só, às questões religiosas controversas de importância capital que abordou, bem como por mostrar o testemunho de um contemporâneo das primeiras gerações cristãs. Nada do que escreveu chegou a nós no texto original, mas muitos fragmentos existem e citações em escritores posteriores como Hipólito de Roma e Eusébio de Cesareia.
Duas de suas principais obras chegaram até aos dias de hoje em suas versões latinas e arménias: a primeira é a "Exposição e refutação do pretenso conhecimento", em português conhecida como "Contra Heresias" por ser frequentemente conhecida e citada pelo seu nome latino de "Adversus Haereses".
É uma obra para combater o Gnosticismo. Em seus cinco livros, expõe de início as doutrinas gnósticas, com referências às suas distintas seitas e escolas nascidas nas comunidades cristãs. Ao refutar as versões mais importantes (de Valentim, de Basilides e de Marcião) Ireneu frequentemente opõe a elas a verdadeira doutrina da Igreja da sua época, dando-nos, deste modo - pelo seu recurso à razão, à doutrina da Igreja e à Bíblia -, testemunhos indirectos e directos relevantes acerca do que então era tido como a "doutrina eclesiástica" pois . Aborda, ainda, passagens muito comentadas pelos teólogos que dizem respeito ao Evangelho de João, à Eucaristia e à primazia da Igreja Romana. Ireneu termina esta obra defendendo a ressurreição da carne, escândalo máximo para os gnósticos. Dos originais restaram fragmentos, e há traduções latinas e armênias. No livro I, Ireneu fala sobre os valentianos e seus precursores, cujas raízes vão até Simão Mago. No segundo livro, ele tenta provar que o valentianismo não tem mérito algum em suas doutrinas. Já no terceiro livro, Ireneu propõe que essas doutrinas são falsas com base em evidências obtidas dos Evangelhos. No livro quarto, Ireneu reforça a união do Antigo Testamento e os Evangelhos ao mesmo tempo que fornece um conjunto de ditos de Jesus. No último livro, ele se concentra em mais ditos de Jesus e também em cartas de Paulo de Tarso
Até a descoberta, em 1945, da chamada Biblioteca de Nag Hammadi, esta obra de Ireneu era a melhor descrição das correntes gnosticas do início da era cristã. De acordo com alguns estudiosos bíblicos, os achados de Nag Hammadi demonstraram que as descrições de Ireneu sobre o Gnosticismo são muito incorretas e polêmicas em sua natureza. Embora correto em alguns detalhes sobre as crenças dos diversos grupos, o principal objetivo de Ireneu era advertir os cristãos contra o Gnosticismo ao invés de descrever corretamente suas crenças. Ele descreveu os grupos gnósticos como libertinos, por exemplo, quando algumas de suas próprias obras advogavam a castidade com mais fervor do que as ortodoxas. Porém, pelo menos um estudioso, Rodney Stark, alega que a mesma Biblioteca de Nag Hammadi prova que Ireneu estava correto[9] .
Parece que a crítica de Ireneu contra os gnósticos era exagerada, o que provocou sua rejeição pelos estudiosos por um longo tempo. Como exemplo, ele escreveu: {{citação2| Eles declaram que Judas, o traidor, era perfeitamente familiar com estas coisas e que, ele, sozinho, sabendo da verdade como ninguém mais, realizou o mistério da traição. Através dele todas as coisas foram então atiradas em confusão. Eles então produziram uma história fictícia deste tipo, que chamaram de Evangelho de Judas. Estas alegações se mostraram verdadeiras no texto do Evangelho de Judas, onde Jesus pediu à Judas o traísse. Sobre as incorreções de Ireneu sobre as libertinagens sexuais entre os gnósticos, é claro que eles não eram um grupo coeso, mas um conjunto de seitas. Alguns eram realmente libertinos, considerando a existência corporal como sem nenhum sentido. Outros, pelo mesmo motivo, prezavam a castidade ainda mais fortemente que a cristandade, chegando ao ponto de banir o casamento e toda atividade sexual
A sua segunda obra é a "Exposição ou Prova do Ensinamento Apostólico", breve texto, cujo conteúdo corresponde na perfeição ao seu título. Há dela uma muito antiga tradução, literal, em ]]língua armênia|armênio]] descoberta em 1904. Ireneu não quer nela refutar as heresias, mas confirmar aos fiéis a exposição da doutrina cristã, sobretudo ao demonstrar a verdade do Evangelho por meio de profecias do Velho Testamento. Embora não contenha nada do que já não tenha sido dito em "Adversus Haereses", é um documento de grande interesse e magnífico testemunho da fé profunda e viva de Ireneu.
Do restante da sua obra seguinte, apenas existem fragmentos espalhados. Muitos só se conhecem por menção a eles feita por outros escritores. São eles:
  • um tratado contra os gregos, intitulado "Sobre o Conhecimento", mencionado por Eusébio de Cesareia
  • um documento dirigido ao sacerdote romano Florinus "Sobre a Monarquia, ou como Deus não é a causa do Mal" com fragmento na "História Eclesiástica" de Eusébio
  • um documento "Sobre Ogdoad", provavelmente contra a "Ogdóade" do gnóstico Valetim escrito para o mesmo supra-citado sacerdote Florinus, que aderira à seita dos valentianos do qual há fragmento em Eusébio
  • um tratado sobre o cisma dirigido a Blastus (mencionado por Eusébio)
  • uma carta ao Papa Vítor contra o sacerdote romano Florinus (fragmento em siríaco)
  • outra carta ao mesmo papa sobre a controvérsia pascal (da qual há trechos em Eusébio)
  • cartas a vários correspondentes sobre o mesmo tema (mencionadas por Eusébio; fragmento preservado em siríaco)
  • um livro com numerosos discursos, provavelmente uma coleção de homilias (mencionado por Eusébio)
Escrituras
Ireneu aponta para as Escrituras como prova de um Cristianismo ortodoxo contra as heresias, classificando como "Escrituras" não somente o Antigo Testamento, mas também os livros hoje conhecidos como Novo Testamento e, ao mesmo tempo, excluindo uma grande quantidade de obras de autores gnósticos que floresciam no século II dC e que alegavam autoridade de Escritura [14]. Antes dele, os cristãos diferiam entre si sobre quais evangelhos eles preferiam. Os da Ásia Menor utilizavam muito o Evangelho de João e o Evangelho de Mateus era o mais popular no geral.. Ireneu afirmou que quatro evangelhos, o de Mateus, Marcos, Lucas e João eram os canônicos. Logo, Ireneu nos deu um dos primeiros testemunhos da afirmação dos quatro evangelhos canônicos, possivelmente como uma reação a uma versão editada por Marcião do Evangelho de Lucas (o Evangelho de Marcião), que ele afirmava ser o único verdadeiro evangelho.
Baseado nos argumentos de Ireneu apoiando a existência de apenas quatro evangelhos autênticos, alguns intérpretes deduzem que este conceito deveria ser ainda muito novo no tempo Ireneu. Em "Contra Heresias" (3.11.7), ele concorda que muitos cristãos heterodoxos utilizavam apenas um evangelho, enquanto em 3.11.9 ele afirma que outros utilizavam mais do que quatro. O sucesso do Diatessarão de Tatiano no mesmo período é "... uma poderosa indicação de que os 'quatro evangelhos' patrocinados na época por Ireneu não eram amplamente - muito menos universalmente - reconhecidos." . Ireneu também foi o primeiro a atestar (numa fonte que sobreviveu até hoje) que o Evangelho de João foi de fato escrito pelo apóstoloe que o Evangelho de Lucas foi escrito pelo mesmo Lucas que era companheiro de Paulo.
O apologista e ascético Tatiano já tinha antes harmonizado os quatro evangelhos numa única narrativa, o Diatessarão (ca. 150 dC]].

Estudiosos afirmam que Ireneu cita pelo menos 21 dos 27 textos do Novo Testamento:
Os itens marcados como ** são os que é incerto se Ireneu citou ou não evangelho.
  • Livro I
  • Prefácio: Primeira Epístola a Timóteo
  • Capítulo 3: Epístola aos Colossenses e Primeira Epístola aos Coríntios
  • Capítulo 16: Segunda Epístola de João
  • Livro II
  • Capítulo 30: Epístola aos Hebreus**
  • Livro III
  • Capítulo 3: Epístola a Tito
  • Capítulo 7: Segunda Epístola aos Coríntios
  • Capítulo 10: Marcos
  • Capítulo 11: João
  • Capítulo 14: Lucas, Atos dos Apóstolos e Segunda Epístola a Timóteo
  • Capítulo 16: Mateus, Primeira Epístola de João e Epístola aos Romanos
  • Capítulo 22: Epístola aos Gálatas
  • Livro IV
  • Capítulo 9: Primeira Epístola de Pedro
  • Capítulo 16: Epístola a Tiago**
  • Capítulo 18: Epístola aos aos Filipenses
  • Capítulo 20: Apocalipse
  • Livro V
  • Capítulo 2: Epístola aos Efésios
  • Capítulo 6: Primeira Epístola aos Tessalonicenses
  • Capítulo 25: Segunda Epístola aos Tessalonicenses
  • Capítulo 28: Segunda Epístola de Pedro **
Ele não cita as Epístolas à Filêmon, Judas e nem a Terceira Epístola de Pedro.
 Autoridade Apostólica
Em seus escritos contra os gnósticos, que alegavam possuir uma tradição oral secreta vinda do próprio Jesus, Ireneu defendia que os bispos em diferentes cidades são conhecidos desde o tempo dos Apóstolos - e nenhum deles era gnóstico - e que os bispos proviam o único guia seguro para a interpretação das Escrituras. Ele enfatizava a posição de autoridade única que detinha o bispo de Roma.
Com as listas de bispos a que Ireneu se referiu, a doutrina posterior de sucessão apostólica dos bispos pode ser relacionada. Esta sucessão foi importante para estabelecer uma linha de custódia da ortodoxia. O ponto de vista de Ireneu quando refutando os gnósticos foi de que todas as igrejas apostólicas preservaram as mesmas tradições e ensinamentos em diversas correntes independentes. Foi um acordo unânime entre estas muitas correntes independentes de transmissão que provaram a fé ortodoxa, corrente naquelas igrejas, ser a verdadeira. Se algum erro tivesse sido absorvido, o acordo seria imediatamente destruído. Os gnósticos não tinham nem esta sucessão e nem um acordo entre eles.

 Traços de um pensamento

Para Ireneu, na senda do progresso constante na Revelação contida na Bíblia, há somente um Deus (Théos) e não um Deus e um demiurgo ou "ser divino" (theios) como era propagado pelas correntes gnósticas. Para estas, de facto, a Criação é obra do demiurgo - δημιουργός em grego, demiurgus em latim - pois, fruto do seu pessimismo diante da matéria criada, não concebiam que a Divindade pudesse contactar com a mesma (Adversus Haereses I, 5, 1-6). Ireneu sublinha não só a identidade entre Deus e o Criador (Adversus Haereses V, II, 1, 1; IV, 5, 2-4) e que, assim, todo o Universo provém do bem e tem em vista o bem, mas igualmente que a Criação não era, como diziam os gnósticos, fruto de um erro de concepção inicial: «neque per apostasiam et defectionem et ignoratiam» (Adversus Haereses II, 3, 2).
O núcleo de um pensamento:
«A glória de Deus é o Homem vivo, e a vida do Homem consiste em ver a Deus. Pois se a manifestação de Deus que é feita por meio da criação, permite a vida de todos os seres vivos na Terra, muito mais a revelação do Pai que nos é comunicada pelo Verbo, comunica a vida àqueles que amam a Deus»
 
Adversus Haereses IV, 20, 7, Ireneu de Lyon
A sua antropologia parte da afirmação de que o Homem - entenda-se: a unidade inseparável de corpo e alma (Adversus Haereses V, 6, 1) -, sendo criado por Deus, é bom. Contudo, por ser uma criatura, o Homem não é perfeito e, assim, está propenso a ir contra sua natureza e optar livremente por decair, sem, contudo, que tal faça destruir a sua natureza (Adversus Haereses IV, 37, 5). Para Ireneu é o livre-arbítrio que torna o Homem semelhante a Deus: «liberae sententiae ab initio est homo, et liberae sententiae est Deus, cui similitudinem factus est» (Adversus Haereses IV, 37, 4). Deste modo, sendo todo o Homem livre em seus actos é, igualmente, responsável pelos mesmos. O mal que pode ser deslindado no Mundo, assim, não é da responsabilidade de Deus, mas das opções desordenadas do Homem.

Santíssima Trindade

"Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto dele antes de toda a criação" (Contra as Heresias IV,20,4).
Irineu afirma a igualdade de essência e dignidade entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo (Adv. Haeres., II, 13, 8).

Batismo trinitário

“Ao dar a Seus discípulos poder para que fizessem os homens renascer de Deus, o Senhor lhes disse: Ide e fazei discípulos Meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. (Mt 28,19)
(Do Tratado Contra as heresias – Lib. 3,17,1-3 : SCh 34, 302-306)

 Eucaristia e ressurreição da carne

No Tratado contra as heresias Irineu redige a doutrina da Eucaristia: Corpo e Sangue de Cristo e a ressurreição da carne:
Se não há salvação para a carne, também o Senhor não nos redimiu com o Seu Sangue. Portanto, quando o cálice de vinho misturado com a água e o pão natural recebem a Palavra de Deus, transformam-se na eucaristia do Sangue e do Corpo de Cristo. Recebendo a palavra de Deus, tornam-se a eucaristia, isto é, o Corpo e o Sangue de Cristo. Assim também os nossos corpos, alimentados pela eucaristia, depositados na terra e nela desintegrados, ressuscitarão a seu tempo, quando o Verbo de Deus lhes conceder a ressurreição para a glória do Pai. É ele que reveste com sua imortalidade o corpo mortal e dá gratuitamente a incorruptibilidade a carne corruptível. Porque é na fraqueza que se manifesta o poder de Deus.
(Lib. 5,2,2-3 : SCh 153,30-38)
Irineu afirma também o caráter propiciatório da Eucaristia em seu monumental "Contra as heresias":
"(Nosso Senhor) nos ensinou também que há um novo sacrifício da Nova Aliança, sacrifício que a Igreja recebeu dos Apóstolos, e que se oferece em todos os lugares da terra ao Deus que se nos dá em alimento como primícia dos favores que Ele nos concede no Novo Testamento. Já o havia prefigurado Malaquias ao dizer: Porque desde o nascer do sol, (...) (Malaquias, I, 11). O que equivale dizer com toda clareza que o povo primeiramente eleito (os judeus) não havia mais de oferecer sacrifícios, senão que em todo lugar se ofereceria um sacrifício puro e que seu nome seria glorificado entre as nações."

Virgem Maria

De importância singular é, também, o pensamento de Ireneu sobre Maria, considerando-a como perpetuamente virgem e como Co-Redentora. Irineu desenvolve um paralelismo antitético, dentro do quadro da Redenção operada por Cristo, entre a mãe de Jesus - figura da obediência e da humildade - e Eva - tipo daquela e imagem da desobediência e do orgulho - :
"Mesmo Eva tendo Adão como marido, ela ainda era virgem ... Ao desobedecer, Eva tornou-se a causa da morte para si e para toda a raça humana. Da mesma forma que Maria, embora tivesse um marido, ainda era virgem, e obedecendo, ela tornou-se causa de salvação para si e para toda a raça humana" (Adversus haereses 3:22)
"A Virgem Maria... sendo obediente à sua palavra, recebeu do anjo a boa nova de que ela daria à luz Deus". (Contra as Heresias V, 19,1)

Primado do Bispo de Roma

Depois de afirmar a primazia da Sé de Roma enumera os Bispos de Roma que governaram a Igreja até então:
"Para a maior e mais antiga a mais famosa Igreja, fundada pelos dois mais gloriosos Apóstolos, Pedro e Paulo." e depois "Os bem-aventurados Apóstolos portanto, fundando e instituindo a Igreja, entregaram a Lino o cargo de administrá-la como Bispo; a este sucedeu Anacleto; depois dele, em terceiro lugar a partir dos Apóstolos, Clemente recebeu o episcopado."
(Contra as heresias - 1.III, 1,12; 2,1´2; 3.1´3; 4,1; P.G. 7, 844ss; S.C.34)

Evangelhos canônicos

Irineu afirma claramente a divisão em quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), fazendo numerosas citações desses evangelhos, únicos evangelhos reconhecidos como autênticos e lidos na Igreja atesta Irineu:
´Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja.´ (Adv. Haereses II, 1,1) ‘Depois de sua morte, Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, nos transmitiu também por escrito o que Pedro tinha pregado. Assim mesmo Lucas, o companheiro de Paulo, consignou num livro o evangelho pregado por este. ´Enfim, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que reclinou sobre o seu peito, publicou também o Evangelho quando de sua estadia em Éfeso. Ora, todos esses homens legaram a seguinte doutrina: Quem não lhes dá assentimento despreza os que tiveram parte com o Senhor, despreza o próprio Senhor, despreza enfim o Pai; e assim se condena a si mesmo, pois resiste e se opõe à sua salvação – e é o que fazem todos os hereges’. (Contra as heresias)
Ireneu em sua obra também faz referência aos Livros Sagrados chamados deuterocanônicos referindo-se à Sabedoria, à História de Susana, Bel e o dragão (Adições em Daniel) e Baruque.

Apontamentos acerca da sua refutação do Evangelho de Judas

A sua extensa e completa refutação das diferentes doutrinas gnósticas vem sendo recordada por ocasião do redescobrimento do texto pseudo-epigrafo conhecido como o Evangelho de Judas. Acerca deste texto, Ireneu disse que era utilizado por um grupo gnóstico auto-denominado cainitas, os quais:
«dizem que Caim nasceu de uma Potestate superior, e se professam irmãos de Esaú, Coré, os sodomitas e todos os seus semelhantes. Por isto, o Criador os atacou, mas a nenhum deles pôde-se fazer mal. Pois, a Sabedoria tomava para si mesma o que deles havia nascido dela. E dizem que Judas, o traidor, foi o único que conheceu todas estas coisas exatamente, porque somente ele entre todos conheceu a verdade para levar em frente o mistério da traição (...). Para isto, mostram um livro de sua invenção, que chamam o "Evangelho de Judas".» (Adversus Haereses, I, 31, 1)
Na continuação, Ireneu, desmascarando o louvor que os cainitas faziam de Judas por este ter entregue Jesus, e assim, segundo estes, ousado experimentar a realização da mais cruel traição como caminho para a realização de um número maior de "experiências" gnósticas, faz notar, não sem uma ironia fina, que
«Estes (os cainitas) chamam de Hystera a este criador do céu e da terra e dizem, como Carpocrates, que o Homem não pode ser salvo se não passar por todo o tipo de experiências. Um anjo, segundo eles, está continuamente à espera de todos os seus actos, incentivando-os para todo o tipo de actos pecaminosos e abomináveis (...). Seja qual for a natureza de tais acções, eles declaram que as fazem em nome de tal anjo, dizendo: "Ó anjo, eu usei o teu trabalho; o teu poder, eu realizei esta acção!" E advogam que isto é o "conhecimento perfeito."» (Adversus Haereses I, 31, 2)
Adiante, faz reparar a inconsistência da argumentação daqueles que seguiam os ensinamentos também contidos no "Evangelho de Judas", ao expôr a incongruência das sua posições:
«Dizem eles que a paixão do decimo segundo Aeon é demonstrada pela morte de Judas. Contudo, ainda segundo eles, tal Aeon, cujo tipo declaram ser Judas, depois de ser separado de Enthymesis, foi restaurado e retomou a sua posição antiga; contudo Judas foi retirado (do seu cargo), expulso, e Matias foi escolhido em seu lugar, de acordo com o que está escrito.» (Adversus Haereses II, 20, 2)

DIA 27/06 É DIA DE "SANTO CIRILO DE ALEXANDRIA"


Cirilo de Alexandria

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
São Cirilo de Alexandria
POPE kyrellos.JPG
São Cirilo, o 24º Patriarca de Alexandria
"Pilar da Fé", Patriarca de Alexandria, Confessor, Padre grego e Doutor da Igreja (Doctor Incarnationis)
Nascimento por volta de 375
Falecimento por volta de 444
Veneração por Igreja Católica
Igreja Ortodoxa
Igreja Ortodoxa Oriental
Anglicanismo
Luteranismo
Festa litúrgica 18 de Janeiro e 9 de Junho na Igreja Ortodoxa
e 27 de Junho na Igreja Católica e Igreja Luterana
Atribuições Vestido como bispo com um felônio e um omofório, frequentemente com a cabeça coberta no estilo dos monges egípicios (por vezes, a cobertura da cabeça apresenta um padrão de polystavrion), é comumente retratado segurando os Evangelhos ou um pergaminho, com a mão direita levantada como quem transmite uma bênção
Portal dos Santos
São Cirilo de Alexandria (c. 375- 444) foi o Patriarca de Alexandria quando a cidade estava no topo de sua influência e poder dentro do Império Romano. Um dos Padres gregos, Cirilo escreveu extensivamente e foi o protagonista liderante nas controvérsias cristológicas do final do século IV e do século V. Foi uma figura central no Primeiro Concílio de Éfeso, em 431, que levou à deposição de Nestório da posição de Patriarca de Constantinopla. Cirilo é listado entre os Pais e os Doutores da Igreja, e sua reputação no mundo cristão resultou em seus títulos: Pilar da Fé e Selo de Todos os Pais. Entretanto, os bispos nestorianos no Concílio de Éfeso o declararam um herético, rotulando-o como um "monstro, nascido e criado para a destrução da Igreja".
A Igreja Ortodoxa e as igrejas orientais celebram seu dia em 9 de junho e, junto com o Atanásio de Alexandria, em 18 de janeiro. A Igreja Católica não o comemora no calendário tridentino; sua celebração foi adicionada apenas em 1882, sendo 9 de fevereiro o seu dia. Aqueles que usam calendários anteriores à revisão de 1969 ainda observam este dia, mas a revisão atribuiu ao santo o dia 27 de junho, considerado o dia da morte do santo.A mesma data foi escolhida para o calendário luterano. O Papa Pio XII, em 9 de abril de 1944, por ocasião do XV centenário da morte de São Cirilo, promulgou a encíclica Orientalis Ecclesiae.

Biografia

Cirilo nasceu por volta de 375[ou 378João de Nikiu afirma que ele nasceu em uma vila chamada Didusja (em copta) e Teodósio (em grego), provavelmente próxima ou coincidente com a atual El-Mahalla El-Kubra; autores posteriores, especialmente gregos, porém, dão como sua cidade natal Alexandria, o que várias fontes modernas corroboram. Sua mãe seria natural de Mênfis e passou algum tempo em monastérios em Alexandria, antes de se casar.

Educação

Alguns anos depois, em 385, Teófilo assumiu a posição de Patriarca de Alexandria. Teófilo era tio de Cirilo, (segundo a Enciclopédia Católica, irmão de seu pai;de acordo com John McGuckin, irmão mais velho de sua mãe) e guiou a educação de seu sobrinho. Em Alexandria, Cirilo recebeu educação clássica e teológica. Provavelmente estudara gramática entre os doze e quatroze anos, entre 390 e 392, retórica e humanidades dos quinze aos vinte anos e, por fim, teologia e estudos bíblicos entre 398 e 402. Provavelmente entrou em contato com os autores que viriam a influenciar sua exegese nesse último período. Entre suas leituras, se destacam Atanásio, Orígenes, Clemente de Alexandria, Basílio de CesareiaEusébio de Cesareia, Dídimo o Cego e até mesmo João Crisóstomo, a quem viria a citar extensivamente apesar do Sínodo do Carvalho. Outra influência relevante foi Isidoro de Pelúsio, importante líder nos circulos monásticos do Egito dezoito anos mais velho que Cirilo. Embora a relação entre os dois ainda precise ser clarificada, Isidoro escrevia-lhe frequentemente, comumente em um tom crítico com surpreendente franqueza para um clérigo provincial, embora não houvesse sinal de ressentimento entre os dois. Por isso, cogita-se que Isidoro era um conselheiro respeitado, e talvez tivesse sido mentor do futuro patriarca.
Se ele foi o Cirilo citado por Isidoro, então ele viveu um um tempo como monge.Segundo Gibbon, este período seriam cinco anos da juventude de Cirilo vividos nos monastérios de Nítria, até Teófilo chamá-lo à cidade.Uma carta de Isidoro na qual o remetente reclama do excesso de "interesses mundados" de Cirilo, em oposição à busca da solidão, também é usada para sustentar essa afirmação. Entretanto, não é certo que Cirilo tenha passado pela vida monástica. O fato de nunca mencionar este suposto fato ao escrever, como arcebispo alexandrino, para monges egípcios é considerado surpreendente. Severo de Antioquia tinha dúvidas sobre essa tradição. Ibn al Muqaffa suporta essa hipótese, mas cita Serapião o Sábio como mentor de Cirilo, ao invés de Isidoro, e é considerado uma fonte pouco confiável. McGuckin cogita que, afinal, Cirilo tenha passado algum tempo em monastérios como parte de sua educação para a vida eclesiástica, dada a importância dessas instituições para o cristianismo egípicio à época.

Início da carreira eclesiástica e Sínodo do Carvalho

Em 403, com aproximadamente vinte e cinco anos, Cirilo terminou seus estudos e foi ordenado leitor da igreja alexandrina, ao lado de seu tio patriarca. A partir daí, ascendeu a cargos eclesiásticos mais altos, mas provavelmente já estava ligado às esferas superiores da Igreja de Alexandria desde o começo. (McGuckin faz notar que, à época do Concílio de Éfeso, Nestório assentara-se apenas por um ano no trono do Patriarcado de Constantinopla, enquanto Cirilo teria vinte e cinco anos de contato e experiência com a política da Igreja no nível mais superior, o que poderia ter lhe dado muito mais habilidade e pode ter decidido o resultado do concílio.)
No mesmo ano, Cirilo acompanhou Teófilo ao Sínodo do Carvalho. Este sínodo, realizado em Calcedônia, resultou na deposição de São João Crisóstomo do Patriarcado de Constantinopla. Teófilo teve um papel central na deposição, e Cirilo alinhou-se à opinião de seu tio, de que Crisóstomo fora justamente deposto. Esse posicionamento causou atrito com Roma, que exigia a reabilitação de João. As relações entre Roma e Alexandria, inclusive, ficaram abaladas até os primeiros anos do patriarcado de Cirilo.
(Durante o mandato de seu tio, Cirilo apoiou a deposição de João Crisóstomo e, no início de seu patriarcado, rejeitou a restauração do nome de Crisóstomo nas comemorações em Constantinopla e Antioquia. Entretanto, desde por volta de 417, o patriarca alexandrino começou uma longa e diplomática reabilitação de João, abandonando aos poucos a posição de seu tio e adotando a sua própria. João Crisóstomo veio a ser muito citado nos sermões de Cirilo, que o considerava um exemplo de ortodoxia.)

Início do Patriarcado de Alexandria

Teófilo faleceu em 15 de outubro de 412. O patriarcado foi disputado, então, entre Cirilo e o arcediago Timóteo; da disputa, evoluiu um tumulto, resultado do conflito entre os apoiadores de cada um dos candidatos.Embora Timóteo tivesse o apoio de Abundâncio, o comandante das tropas romanas no Egito, Cirilo venceu: foi feito patriarca em 18 de outubro, três dias após o falecimento de Teófilo, apoiado pelos populares.
O novo patriarca passou a exercer mais poder que seu antecessor, assumindo a administração de questões seculares e a autoridade do prefeito civil. Segundo Gibbon, sob o comando de Cirilo, os parabolani controlavam os programas de caridade, e os prefeitos egípcios temiam sua influência.À época, Alexandria, habitada por judeus, pagãos e cristãos,era conhecida pela instabilidade; Sócrates de Constantinopla afirma que nenhuma outra cidade era mais propensa a tumultos, sempre violentos.

Expulsão dos Novacianos

Cirilo fechou as comunidades dos novacianos e tomou seus objetos sacros. Os novacianos eram a seita dos seguidores do antipapa Novaciano; separaram-se da Igreja Católica basicamente porque criam que os cristãos que apostataram durante a perseguição de Décio não podiam ser perdoados e readmitidos.Entretanto, suas práticas condiziam com a dos católicos em quase todos os aspectos, e Gibbon os descreve como "os mais inocentes e inofensivos dos sectários".Segundo Sócrates, o bispo novaciano Teopempto teve também suas posses cassadas.

Conflito com Orestes e a comunidade judaica

A comunidade judaica de Alexandria era grande e tradicional. Presentes na cidade desde sua fundação, havia sete séculos, eram bem sucedidos e protegidos pela lei secular. Na época de Cirilo, os judeus alexandrinos chegavam a ser quarenta mil.
Sócrates Escolástico conta que, durante uma deliberação sobre alguma festividade dos judeus, eles acusaram um monge Hierax, exaltado seguidor de Cirilo, de incitar tumulto entre os presentes. Orestes, o prefeito, que invejava o poder dos bispos, aproveitou para tomar o monge, torturá-lo e assassiná-lo em público.Cirilo foi aos principais judeus e os ameaçou. Esses, por sua vez, organizaram um ataque aos cristãos: saíram, em uma noite, pelas ruas, anunciando um suposto incêndio em uma igreja. À medida que os cristãos saíam para salvar seu templo, os judeus os assassinavam.Gibbon, por sua vez, cogita que a morte dos cristãos possa ter sido acidental;de qualquer forma, sabe-se que houve o assassínio dos cristãos pelos judeus.
Seja como for, Cirilo respondeu aos ataques indo, acompanhado por uma multidão, às sinagogas, tomando os judeus à força; pegos de surpesa, não puderam se defender e foram expulsos da cidade.As sinagogas foram demolidas e os bens dos judeus saqueados. Vários historiadores afirmam que praticamente todos os judeus (que chegariam a ser quarenta mil cidadãos) foram expulsos da cidade; outros, porém, vêem nesta afirmação um exagero. Sabe-se, de qualquer forma, que grande parte da população judaica foi expulsa de Alexandria.
Orestes ficou descontente com o ocorrido: a perda de grande parte da população o desagradoue, ademais, os judeus eram protegidos pelas leis.O prefeito comunicou o ocorrido ao imperador Teodósio;entretanto, Pulquéria, a imperatriz, era profundamente cristã e intercedeu em favor dos cristãos, conseguindo sobrepor-se à voz de Orestes. Após o conflito, diz Sócrates, Cirilo tentou reconciliar-se com Orestes, escrevendo-lhe e enviando mensageiros, mas as negociações fracassaram.

Ataque a Orestes

As reclamações do prefeito, afirma Gibbon, descontentaram alguns monges nitrianos. Enquanto a carruagem de Orestes passava pelas ruas, cerca de quinhentos desses monges atacaram-na, acusando o prefeito de paganismo. A maioria dos guardas do prefeito fugiram; Orestes informou que era cristão batizado, mas os monges continuaram atacando-o a pedradas, ferindo-lhe a cabeça.
A população alexandrina dispersou os monges. Amônio, o monge lançador da pedra que feriu o prefeito, foi capturado. Como punição, foi torturado até a morte publicamente. Cirilo tomou o corpo do torturado, levou-o a uma igreja e mandou listá-lo entre os mártires, intitulando-o Thaumasius. Segundo Sócrates, este ato foi malvisto, mesmo entre os cristãos: Amônio teria morrido não por não renunciar a fé, mas sim por um crime comum. Cirilo mesmo seria consciente disso, afirma Sócrates, de modo que procurou deixar o episódio cair no esquecimento.

 Assassinato de Hipátia

Hipátia, segundo uma gravura tradicionalmente usada para representá-la.

Habitava Alexandria, à época, uma filósofa chamada Hipátia. Pagã e neoplatonista, era considerada muito sábia e virtuosa, mesmo pelos cristãos. Entretanto, corriam boatos de que ela prevenia Orestes contra Cirilo, porque Hipátia era amiga do prefeito. Assim, na quaresma de 415 (ou 416), uma multidão, incitada por um leitor chamado Pedro, tomou-a de sua carruagem, arrastou-a até uma igreja e a assassinou, desmembrando-a e queimando seu corpo. Gibbon afirma que os perpretadores do assassinato foram poupados da justiça através de suborno.
A relação de Cirilo com o ocorrido é controversa.Sócrates e Gibbon afirmam que sua morte trouxe opróbio para a Igreja de Alexandria e seu patriarca, mas não mencionam envolvimento de Cirilo. Damáscio, por sua vez, atribui explicitamente o assassinato ao patriarca, que invejaria Hipátia; a Enciclopédia Católica, porém, lembra que Damáscio escreveu em um tempo bem posterior, e afirma que ele repudiava os cristãos.Vários autores tendem a atribuir culpa ou responsabilidade indireta ao patriarca: ele teria incitado as multidões com seus discursos, mesmo não dando ordens explícitas. Outros afirmam, porém, que as multidões agiram por iniciativa própria e que Cirilo não tinha controle da situação. De qualquer forma, o episódio ficou associado a Cirilo.
Também há algumas dúvidas sobre as motivações. McGuckin cogita que o crime tenha sido resultado de uma tentativa de conversão forçada.Algumas pesquisas modernas, porém, crêem que o episódio resultou do conflito de duas facções cristãs: uma mais moderada, ao lado de Orestes, e outra mais rígida, seguidora de Cirilo.

Polêmica com Nestório e Concílio de Éfeso

Entre 427 e 428, Nestório, um monge nativo de Germanícia que vivia em Antioquia, foi elevado ao Patriarcado de Constantinopla. Seguindo a tradição da escola teológica síria, Nestório se opunha ao uso do termo Theotokos (em grego, mãe de Deus) para se referir à Virgem Maria.Cirilo, porém, defendia e incentivava o uso do termo, como consequente da natureza única de Cristo; assim, em 429, escreveu uma carta pascal apoiando o uso do título. Os patriarcas trocaram correspondências, em um tom relativamente moderado. Nestório, então, envia seus sermões ao Papa Celestino I, pedindo sua opinião, mas não obtém resposta. Posteriormente, Cirilo também escreve ao papa, solicitando que decrete sua opinião.
O papa decidiu a favor de Cirilo e delegou ao patriarca alexandrino a autoridade de cassar o episcopado de Nestório e impor um prazo de dez dias para que Nestório apresentasse penitência e arrependimento. Cirilo escreveu a Nestório uma carta, em um tom não conciliatório, exigindo que Nestório apresentasse arrependimento e penitência em dez dias. Além disso, acrescentou à carta doze anátemas que o patriarca bizantino deveria confirmar; esses anátemas, acrescentados pela própria conta de Cirilo, viriam a ser fonte de grande polêmica.
O imperador Teodósio e as igrejas do Leste resistiram ao veredito papal, de modo que Teodósio conclamou um concílio ecumênico para o ano 431, em Éfeso. Nestório chega à cidade logo após a Páscoa; Cirilo, acompanhado de uma grande comitiva, chega por volta do Pentecostes.Cirilo aliou-se a Menon, bispo de Éfeso, e Nestório encontra todas as igrejas fechadas, além da oposição dos efésios.
Enquanto isso, João de Antioquia atrasara, assim como os enviados do papa, que determinariam se Nestório poderia ou não participar no Concílio. Cirilo temia que João atuasse em favor de Nestório e que estivesse tentando ganhar tempo para seu adversário. Assim, no dia 22 de junho, antes da chegada dos emissários papais e dos bispos do Leste, Cirilo abriu o concílio, na posição de presidente e representante papal (embora não tivesse sido comissionado para tal representação ante o conselho), a despeito do pedido de sessenta e oito bispos e de Candidiano, o representante imperial, para que aguardasse. Esses bispos e o representante do Imperador acabaram excluídos do concílio. Cirilo também mandou quatro bispos convocarem Nestório, para que ele se explicasse, mas o patriarca de Constantinopla não os recebeu.
Sem a participação dos sessenta e oito bispos, dos bispos do leste que ainda não chegaram, de Nestório e de Candidiano, o Concílio foi unânime: as cartas de Cirilo foram declaradas compatíveis com o Credo Niceno e a doutrina dos Pais da Igreja. Houve uma condenação unânime, sem discussão e uniforme até mesmo no estilo, a Nestório, que deveria ser deposto e excomungado. Entretanto, em 26 ou 27 de junho, João e sua comitiva de bispos chegaram a Éfeso. Depois de se reunirem com Candidiano, João e os demais bispos do Leste declararam outro concílio, que condenaria Cirilo e Mênon por apolinarianismo e eunomeanismo através de outros doze anátemas. Em resposta, Cirilo e Mênon declaram a deposição de João de Antioquia.
Enquanto isso, o caos toma Éfeso. Mênon fecha as igrejas aos bispos orientais e guarnece a catedral da cidade; Candidiano tenta tomá-la, com as tropas do Imperador, mas fracassa. O conflito entre os partidários de Cirilo e de Nestório chega às raias da violência física. Teodósio buscava o acordo entre as partes, fosse por argumentação ou por intimidação; concedeu amplos poderes a seus representantes efésios e chegou a promover um concílio alternativo, nos arredores de Éfeso, com alguns representantes de cada facção. Entretanto, os orientais não cediam aos argumentos, e os católicos, em maior número e com apoio papal, rejeitavam a reconciliação.Após três tumultuados meses, Teodósio dissolve o concílio e ameaça destituir Cirilo, João e Mênon. Depois de algum tempo sob custódia, Cirilo e João retornam a suas dioceses; o imperador adota a posição de Cirilo, e Nestório é deposto e exilado, primeiro em Antioquia, depois em Petra e posteriormente no Grande Oásis do Egito.
Em 432, morre o papa Celestino I; seu sucessor, Sixto III, corrobora o resultado do concílio presidido por Cirilo. Sixto tenta convencer João a entrar em acordo com o patriarca alexandrino; o patriarca de Antioquia resiste, mas acaba se reconciliando com Cirilo. Após o concílio, Cirilo escreveu ainda vários tratados, cartas e sermões. Foi patriarca alexandrino até a sua morte, em 9 ou 27 de junho 444; seu patriarcado se estendeu por trinta e dois anos.

 Mariologia

Cirilo de Alexandria tornou-se conhecido na história da Igreja, por causa de seu espírito de luta do título de "Theotokos" (Mãe de Deus), durante o Concílio de Éfeso (431). Inclusive, na Liturgia da Palavra, a leitura recomendada pela Igreja Católica para o dia deste santo é exatamente uma defesa do título de Mão de Deus. Seus escritos incluem a homilia pronunciada em Éfeso e vários outros sermões. Em vários escritos, Cirilo centra-se no amor de Jesus a sua mãe. Na cruz, ele supera sua dor e pensa em sua mãe. No casamento em Caná, ele faz uma reverência aos seus desejos.